Ele (irônico): Mas o destino não seria algo involuntário? Traçado por mãos cósmicas, sagradas, mapas astrais?
Ela: Não, o destino não é um roteiro esotérico. Não é algo que pode ser visto por um meio adivinhatório. Quiromancia, tarô, búzios, borra de café. Nada pode enxergar aquilo que já foi escolhido há muito. Ações racionais ou involuntárias, são escolhas.
Escolhas conduzem aquilo que pode ser chamado de destino. E o destino, que muitos debocham, é um emaranhado de nós que nos ligam, nunca de forma aleatória, uns aos outros.
Não podem mensurar o que é o infinito. Não podemos fazer nada, afora traçar uma linha que dita: nos anos quatro mil antes de Cristo, alguém inventou uma forma de dizer algo sobre a superfície, e esses signos se tornariam, um dia, um poema meu para você.
Se podemos crer que esse poeta da antiguidade - poeta ou burocrata ou delator - definiu nessa linha o que seria o início de uma era, por que não podemos aceitar que não há nada que seja casual?
Que o que é dito foi criado num momento anterior a palavra? Que uma decisão tem inúmeros desejos que não se reduzem a um pensamento?
Não podemos decifrar o enigma que me conduz, sempre, ao mesmo papel de inconvenientemente por amar você.
A vida fez de mim uma oponente desse jogo abstrato, mas que se repeti ridiculamente as regras do War ou do Banco Imobiliário.
Quem derruba o quê?
Quem ganha o quê?
Casas pra frente e para trás. Sou um pino vermelho de tabuleiro.
O pino que por total força do costume, parece ser o mais destemido.
Pois, querido pino azul, eu sinto medo!
Nessa parte, a "física quântica" dela já não interessa, e ele mexe no celular.
Ela: Se não há ciências, runas, rimas, que explique porque sempre se repete esse padrão, como um código morse, que me conduz a dor, devo crer que seja, então, pecado.
E não sei ser pecadora, temo padecer nesse meu destino que é o inferno de amar. Estou no ofício de descrever o amor há muito e sei bem que não serei salva.
Ele responde mais três e-mails.
(Fernanda Young)